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Re: [lp-br-sp] GSEC e reflexões
From: |
Sergio Durigan Junior |
Subject: |
Re: [lp-br-sp] GSEC e reflexões |
Date: |
Mon, 24 Mar 2014 00:28:24 -0300 |
User-agent: |
Gnus/5.13 (Gnus v5.13) Emacs/24.2 (gnu/linux) |
On Sunday, March 23 2014, edson duarte wrote:
> olá!
Grande Edson!
> ontem ocorreu o primeiro encontro do GSEC - Grupo Snowden de Estudos
> Criptográficos - no IC e foi bem melhor do que eu esperava.
Caramba, confesso que nem fiquei sabendo desse grupo de estudos. Aliás,
que nome engraçado :-P.
> para quem quiser ter uma ideia do que aconteceu:
> http://www.ustream.tv/recorded/45181189
Em geral eu não ia apontar problemas, mas nesse caso em específico eu
acho importante, porque vai me ajudar a montar meu argumento. Esse
site:
- Utiliza Flash, que é uma tecnologia proprietária da Adobe;
- Faz requests para *várias* páginas de tracking, tipo Google Analytics,
Facebook, Twitter, Adobe, etc.
- Até onde eu vi (posso estar errado), não disponibiliza o link para o
download do vídeo, nem em formato aberto, e nem em formato
proprietário.
> o que mais me interessou foi o foco em produzir que o idealizador quer ter,
> será criado um "fundo" para o projeto TOR e toda vez que um alguém
> conseguir contribuir com o projeto, a pessoa recebe 10% do fundo.
Só por curiosidade, quem é o idealizador?
Sobre essa idéia do fundo, eu acho legal. Infelizmente as coisas
funcionam assim, na base da grana mesmo, ainda que estejamos falando
sobre Software Livre e cultura de colaboração. Poucas pessoas
contribuem por prazer (ou por quererem retribuir o que a comunidade lhes
dá!). Vide Google Summer of Code. Então já que vivemos nesse mundo,
nada mais justo do que se adequar a ele. Aliás, uma outra idéia seria
fazer doações esporádicas não só pro TOR, mas também pra outros
projetos de SL!
> agora, para um primeiro encontro, o assunto não ficou tão técnico, o que
> foi bom pois quase ninguém entendia do assunto, mas gostei mesmo foi do
> interesse das pessoas, havia mais de 60 pessoas na sala, a maioria da
> computação mas ainda assim com pessoas de diversos cursos (incluindo pós) e
> ainda outras pessoas de fora da unicamp.
Legal, é sempre bom ver a comunidade se interessando por assuntos
importantes como esse. Espero sinceramente que o idealizador saiba
conduzir as discussões de forma madura e competente (a começar pelo
serviço utilizado pra divulgar as aulas)!
> e eu não tenho certeza de que tipo de comparação quero fazer mas esse
> número de pessoas me fez pensar também no porquê de um assunto
> potencialmente tão mais técnico que software livre ter atraído tanta gente,
> enquanto que o gpsl e o libreplanet não parecem ter o mesmo efeito...
Hehe, aí você jogou a isca, e essa eu sempre mordo!
Eu poderia escrever um e-mail gigantesco citando inúmeras razões pelas
quais assuntos como SL não atraem as pessoas. Mas nesse caso que você
citou, acho que a resposta maior é uma só: mídia. Esse assunto de
espionagem foi amplamente divulgado, discutido, e distorcido em rede
nacional de televisão, e na internet também. De repente, virou febre
brincar que a NSA está espionando todo mundo, e provavelmente postar
essa piada no Facebook pros seus "amigos" curtirem... Tanto é que esse
evento aí, que tem um título bem sugestivo, escolheu divulgar a gravação
da palestra num site *cheio* de coisas proprietárias que te rastreiam!!!
O Software Livre não é um movimento só técnico, como você bem disse.
Aliás, às vezes o que a gente menos faz é programar! O nosso lance é
discutir filosofia (aquele velho papo de "o que é liberdade?", ou "BSD é
mais livre que GPL?"), política, e sociedade. E quando eu digo
"sociedade", quero dizer que boa parte das nossas discussões têm a ver
com esses seus questionamentos também! Por que é tão difícil trazer
mais gente pro nosso lado? Por que, mesmo depois de termos começado o
grupo no fim de 2012, continuamos basicamente com o mesmo número de
pessoas realmente engajadas na luta (menção honrosa ao Cascardo, que se
juntou a nós mas sempre foi das antigas também...)? Onde é que estamos
errando? Isso até me lembra uma conversa bem recente que eu tive com o
Krisman a respeito de como reformular as aulas pros bixos de modo a
atrair mais gente pra *pelo menos* conhecer o que é SL!
Mas eu vou te dizer o que eu acho. Nós sofremos porque nós não queremos
quantidade. Nós queremos qualidade. Nós não queremos que todos saiam
usando Ubuntu, nós queremos que todos usem Software Livre de verdade, o
máximo possível! Nós não queremos entrar no Facebook (ou no Twitter,
viu FSF???) pra divulgar nossas idéias! Queremos (ou pelo menos *eu*
quero) conversar com as pessoas, explicar as idéias por trás do que você
está vendo e usando todo dia no seu computador, e dar chance pra que
elas possam nos questionar também. (Tô parecendo político nesse
parágrafo, melhor parar...)
Enfim, cara. Novamente: acho que a resposta pra esse teu questionamento
específico é: a Globo falou que rola espionagem, a Folha de S. Paulo
falou que a espionagem é ruim, e a Veja fez um infográfico (argh!) pra
"ensinar" às pessoas como é que o governo dos EUA as espiona.
Além disso, aposto que o idealizador desse evento deu uma cara
totalmente apolítica a ele. Ou seja, apesar de não terem rolado
discussões técnicas profundas, é provável que não rolaram discussões
políticas também, e explicações mais amplas sobre os perigos de você,
que quer aprender a criptografar seus e-mails, continuar usando
Facebook. Certo? Acho que a pitada de "apoliticidade" (desculpe o
neologismo) faz com que as pessoas também se interessem mais. Afinal, é
tão chato discutir política, né? </ironia>
> será que os dois focam demais nos alunos da computação? que não estão tão
> interessados em computação assim...
Não acho que a gente foque muito em alunos da computação, apesar de essa
ser uma grande parte do nosso foco. Os eventos do ano passado, por
exemplo, foram divulgados de forma a atrair pessoas da comunidade em
geral (mesmo não computeiros).
Sobre os alunos de computação não serem computeiros, isso já é um outro
problema.
> será que o assunto fica técnico demais?
Não sei, o que você acha? De verdade, queria ouvir mais a opinião das
pessoas. Acho que, no canal, o assunto varia enormemente, dependendo de
quem está conversando. Nos bares, também depende. No último bar, por
exemplo, fomos eu, o Cascardo e o Luiz. O assunto foi bastante técnico,
mas acho que deu pro Luiz participar, e eventualmente falamos sobre
coisas menos técnicas também. Mas essa é minha opinião. Como eu disse,
ia ser legal ouvir outras pessoas.
> será que atacar o windows/mac tão diretamente ofende os usuários?
Posso estar redondamente enganado, mas não acho que nós atacamos a
Microsoft ou a Apple *tanto*. Obviamente, elas fazem um trabalho
excelente em servirem de exemplo pra atitudes anti-éticas, e acabamos
usando esses exemplos às vezes, mas tenho a impressão de que nós
tentamos falar mais sobre SL e menos sobre o "inimigo".
> eu moro com 12 leigos no assunto e todos usam alegremente seus windows,
> iphone e/ou whatsapp e se tento compartilhar alguma notícia (não técnica
> até) que seja sobre alguma falha de segurança/privacidade em algum desses,
> sou simplesmente ignorado.
Claro, porque não convém a eles prestarem atenção em você! Mas aposto
que eles iriam, também alegremente, num evento como esse que você foi,
pra falar sobre criptografia, TOR, e espionagem alheia. As pessoas
sempre têm a impressão de que "comigo não acontece".
> é bem complicado isso... mas bom... é isso por enquanto :)
Valeu pelo e-mail! Aliás, obrigado pelos e-mails que você tem enviado,
são sempre causadores de discussão, o que é ótimo :-P.
Falou!
--
Sergio